quarta-feira, 27 de abril de 2016

REDE GLOBAL DE SEGURANÇA FINANCEIRA

A REDE GLOBAL DE SEGURANÇA FINANCEIRA

Como não existe um banco central mundial, há necessidade de um acordo internacional, formal ou informal, sobre quais moedas serão aceitas nos pagamentos entre países, as taxas de câmbio entre essas moedas, a acumulação de reservas internacionais, o financiamento de situações de superávit ou déficit no balanço de pagamentos e sobre a correção das situações de desequilíbrio.

O FMI foi criado para resolver esses temas, principalmente financiar desequilíbrios de pagamentos sob um sistema de taxas de câmbio fixas. Mais recentemente, com a globalização e aumento no volume e volatilidade dos capitais internacionais, vem utilizando o conceito de rede de segurança financeira global. Sua necessidade deriva do fato de que a acumulação de reservas internacionais e a correção de rumo da política econômica doméstica não são suficientes para restabelecer o equilíbrio nas economias.

A rede global de segurança financeira - “Global Financial Safety Net” (GFSN) - é formada, adicionalmente às reservas internacionais dos países, pelos acordos de swap entre bancos centrais, acordos/arranjos regionais de assistência financeira (como Chiang Mai e CRA dos BRICs), recursos do Fundo Monetário Internacional (complementado por parceiros multilaterais e bilaterais de desenvolvimento), assim como instrumentos de mercado. A rede tem três objetivos principais: (i) fornecer seguro contra crises; (ii) apoiar financeiramente os países quando a crise acontece; (iii) incentivar políticas macroeconômicas saudáveis.

Conforme anunciado em minha postagem de 17 de março de 2016, o FMI lançou, nesse mesmo dia, um novo ciclo de debates sobre o sistema monetário internacional. O primeiro documento produzido foi uma avaliação da GFSN[1], para identificar suas fortalezas fraquezas e desafios atuais. De maneira mais ampla determinar se, mesmo com os progressos recentes tanto em termos do aumento de recursos do Organismo quanto em termos da maior cooperação financeira entre países, ainda persiste a necessidade de aperfeiçoamento dessa rede de proteção.

Seminário[2] ocorrido durante as chamadas reuniões de primavera do FMI (nosso outono) agregaram a visão acadêmica e de países (India e Chile) à discussão. Um dos pontos considerados foi o trade off entre acumulação de reservas internacionais pelos países e a utilização das linhas de financiamento precaucionais do FMI (que atenderiam as necessidades de países com políticas econômicas saudáveis que estivessem enfrentando volatilidade de fluxos de capitais). Porque os países preferem a acumulação de reservas que teria um custo maior? Volta à baila a questão do estigma associado a utilização de recursos do Fundo. Como evita-lo? Uma solução discutida foi a pré-qualificação de todos os países membros. Uma possibilidade seria durante as consultas regulares para o acompanhamento das políticas econômicas dos países se explicitar o nível de acesso a esse tipo de recurso.

Um outro ponto considerado foi a velocidade com que o FMI atende as necessidades dos países. Demora porque precisa determinar e negociar o mix entre alteração de políticas econômicas e financiamento do ajuste, de maneira a garantir o retorno dos recursos emprestados, segundo o representante do Fundo. A solução para esse ponto não foi muito criativa – fazer um pool de recursos de bancos centrais – com operações de swap, que atenderia as questões de liquidez mais urgentes e teria a garantia de refinanciamento do FMI se o problema de liquidez impedisse a recuperação dos recursos.

Lembro aqui que essa solução não difere dos chamados empréstimos ponte -bridge loans – utilizados, por exemplo, em 1998 pelo Brasil. O principal empréstimo foi realizado pelo Banco de Liquidações Internacionais, onde a maioria dos bancos centrais do mundo é sócia. Ademais, o que é o FMI senão um pool de reservas internacionais dos países?
As discussões sobre a rede global de segurança financeira são muito complexas e serão detalhadas e avaliadas nas próximas postagens.



[1]  The Adequacy of the global financial safety net – 10 de março de 2016.

quinta-feira, 31 de março de 2016

O  momento atual da economia mundial, recomenda que o sistema monetário internacional seja fortalecido para torna-lo mais seguro. O dinamismo dos países emergentes após a crise financeira de 2008-2009 arrefeceu. Alterações estruturais na economia mundial, incluindo preços mais baixos das commodities, condições financeiras mais apertadas e ou voláteis, além do momento de transição da China, colocam riscos adicionais ao crescimento sustentado global um dos objetivos do sistema monetário internacional.

A rede de proteção financeira global, da qual o FMI faz parte, tem sido fortalecida. Ela é composta pelas reservas internacionais dos países, acordos bilaterais de swaps entre bancos centrais, acordos de financiamento regionais, recursos do FMI (complementados por outros parceiros, multilaterais ou bilaterais de desenvolvimento,) e instrumentos de mercado. Mencione-se, como exemplo,  o aumento dos recursos próprios do FMI, a partir das quotas dos países membros, como ocorrido recentemente, a criação do Acordo Contingente de Reservas dos países BRICs, assim como os acordos de swap do banco central da China.

Meu artigo recente publicado na Revista da Procuradoria do Banco Central (link  abaixo - ver páginas 17 a 44) faz o registro histórico das experiências de cooperação financeira internacional do Banco Central do Brasil e resgata as lições aprendidas, como contribuição para o entendimento das iniciativas recentes, entre elas o acordo firmado no âmbito dos países BRICS - Acordo Contingente de Reservas, e as negociações do acordo de swap de moedas entre Brasil e China. A cooperação financeira internacional é interpretada como parte dos acordos vigentes no âmbito do sistema monetário internacional São descritas as experiências relevantes, inclusive as que não se concretizaram, mas cujas negociações acrescentaram experiencias importantes. 

O Arranjo Contingente de Reservas dos países BRICS tem dimensão inicial de US$ 100 bilhões. Pode ter um efeito positivo em termos de prevenção de crises, principalmente de liquidez de curto prazo, fortalecendo assim a rede de segurança financeira global, complementarmente. Sua operacionalização se dará por meio de troca da moeda do país solicitante por dólares americanos. A transferência financeira efetiva somente ocorrerá quando houver solicitação de utilização do mecanismo.

O swap de moedas é um acordo para trocar uma moeda, por outra, e reverter a transação numa data futura. Esses swaps são utilizados amplamente pelo setor privado e, também, por bancos centrais, com o objetivo de facilitar o funcionamento dos mercados de câmbio internacionais, geralmente, quando existe risco de escassez de uma determinada moeda. Como o dólar é a moeda mais utilizada em pagamentos internacionais, o banco central americano (Federal Reserve) celebrou vários acordos de swap durante a crise financeira internacional. O banco central chines vem também realizando acordos de swap como fomento a internacionalização do Yuan. 

Revista PGBC Banco Central do Brasil

quinta-feira, 17 de março de 2016


No dia 17 de março de 2016 o Fundo Monetário Internacional anunciou o lançamento de debates sobre o futuro do sistema monetário internacional. Esse tema geralmente desperta o interesse de funcionários de bancos centrais e de ministérios da fazenda, além da acadêmicos estudiosos de economia e finanças internacionais.  Nosso objetivo neste blog é aumentar o interesse sobre o tema, simplificando os textos dos iniciados e mostrando como o funcionamento dessa entidade – sistema monetário internacional pode afetar o dia a dia das pessoas.

“Assuntos dominados apenas por especialistas, atraem algumas pessoas brilhantes e ideias excêntricas. Alguns assuntos não têm qualquer uso prático. Outros são de grande valor.
O mesmo acontece com o sistema monetário internacional. Poucos economistas acadêmicos chegam a duvidar de sua importância, e a maioria das pessoas passa rapidamente para outros campos. Aqueles que se dedicam à especialização – talvez aproximadamente 300, num determinado período – apresentam inúmeras ideias, críticas e planos que são lidos por outro grupo quase do mesmo tamanho. Entre eles estão alguns homens (sic!) da área comercial mas a maioria é de representantes de bancos centrais ou de ministérios da área financeira.... Estes representantes têm suas ideias próprias que apresentam periodicamente em relatórios sob os títulos mais variados cujo conteúdo é lido por todos os 300 acadêmicos e ignorado pelo resto dos mortais.
Esse grupo de 600 – que poderia adequadamente ser chamado de G-600 – é a fonte de todo debate sobre a situação dos sistema monetário internacional.”
Transcrição da revista “The Economist” em Senhor, 16/10/1985

Conforme definição recente do Fundo Monetário Internacional[1], o sistema monetário internacional é a estrutura facilitadora das trocas de bens, serviços e capital entre países e sustenta o crescimento da economia internacional. Os objetivos do sistema monetário internacional são semelhantes aos de um sistema monetário doméstico, isto é, facilitar o processo de especialização e troca e, consequentemente, a plena utilização dos recursos econômicos de um pais. Para alcançar esse resultado deve equilibrar as necessidades dos países individuais e o do sistema como um todo – e fazer isso ao longo do tempo na medida em que as relações financeiras e econômicas se modificam.

Uma outra maneira de descrever o sistema monetário internacional é[2]: conjunto de acordos, regras, práticas e instituições sob os quais são realizados os pagamentos além das fronteiras domésticas. Tal conjunto de regras e regulamentos está consubstanciado não só no Convênio Constitutivo do Fundo Monetário Internacional - organismo responsável pela administração do sistema - mas também nos acordos e consultas entre os países, por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Conferência para Comércio, Agricultura e o Desenvolvimento das Nações Unidas (UNCTAD), do Banco para Liquidações Internacionais (BIS) e das organizações regionais.

Como pode se concluir muitos são os temas direta ou indiretamente relacionados a essa entidade chamada sistema monetário internacional. De acordo com sua temporalidade e interesse serão discutidos nesse blog. 



[1] FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL. International Monetary System. IMF launches debate on the Future of the  International Monetary System. IMF Survey Magazine, Policy, March 17, 2016http://www.imf.org/external/pubs/ft/survey/so/2016/POL031716A.htm
[2] Solomon, Robert. The International Monetary System: 1945-1976: An Insider View. Nova Iorque, Harper & Row, 1977.